sábado, 21 de abril de 2012

VERSO VIVO

O temido verso da procela
Invade a alma se agiganta
Sobe com fúria à garganta
E o meu corpo inteiro gela.

Velha sensação tão conhecida
Às vésperas já senti no peito a lança
Do hemisfério fúnebre das lembranças
Voltando aos poucos esvaecidas.

Torrão amargo, sinto-lhe o gosto
E na boca o bolo cresce
Insuportável e logo desce
Junto co'a taça do desgosto.

Veneno sutil, ineficaz
Erva importada de aromáticos brotos
De um mundo insólito, ignoto
Finge que é bom, mas bem não traz.

Verso terrível, verso da procela
Vivo! E o meu peito já quase morto
Respira ainda cheirando o mosto
Que a minha alma tanto anela.

Verso cruel dos mais sutis
Sempre a cavar notáveis poços
Até encontrar meus frios ossos
De frio tremendo. E ainda ris!?


Te imagino ainda tão formidável
As tuas linhas, o teu esboço
Adornos fáceis para o meu pescoço
Mas aperta à forca, inexorável.

Janete Roen

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